Realizou-se no passado sábado, dia 3 de fevereiro de 2018, a cerimónia comemorativa do 20º aniversário da chegada do navio Gil Eannes a Viana do Castelo. A sala foi exígua para a afluência de convidados e amigos que quiseram participar nas festividades. Do extenso programa constou:
Sessão solene comemorativa com a presença de José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas, em representação oficial da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino; José Maria Costa, presidente da Fundação Gil Eannes e da Câmara Municipal de Viana do Castelo; João Lomba da Costa, administrador da Fundação Gil Eannes; Rocha Ramos, representante da extinta associação “SOS Gil Eannes”; João David Marques, oficial náutico e Jean Pierre Andrieux, investigador e escritor canadiano.
A abertura da sessão coube a José Maria Costa que agradeceu a presença de todos os convidados e realçou a importância do momento como “... uma homenagem àqueles que fizeram da pesca do bacalhau o seu modo de vida.”
A estada do navio em Viana do Castelo, para o presidente do município, tem um significado que assume três vertentes: primeiramente como “... um tributo à construção naval portuguesa, pois o Gil Eannes foi edificado nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo; uma empreitada diferente com muita tecnologia nova, equipamentos instalados a bordo superiores aos dos hospitais em terra; uma arte e um centro de competências que o país tem.”
Um segundo prisma “... prende-se com aqueles que escolheram esta vida, que não devemos olvidar, muito dura, muito exigente, com o afastamento de mais de seis meses das famílias.”
E por último “...valorizar a identidade enquanto país, que é de facto o sermos uma pátria com ligação ao mar, nomeadamente com o vianense João Álvares Fagundes, considerado o primeiro capitão da Terra Nova, com grandes poetas e também com grandes feitos.”
José Maria Costa, enquanto presidente da Fundação Gil Eannes, agradeceu e enalteceu ainda os funcionários desta instituição, pelo seu empenho e profissionalismo.
A finalizar a sua intervenção, deixou no ar a aspiração e o ensejo para que 2018 fique marcado pela conquista dos 100.000 visitantes ao navio e a abertura de novos espaços neste que é o expoente máximo dos museus flutuantes do país.
De seguida, Rocha Ramos, representante da extinta associação “SOS Gil Eannes”, realçou o esforço que foi empreendido e importante no alerta da comunidade, para que o navio não fosse sujeito a abate e, contiguamente, desmantelado.
O comandante João Lomba da Costa, administrador da Fundação Gil Eannes, destacou o papel deste navio como “... uma memória viva na assistência à frota branca portuguesa nos longínquos mares da Terra Nova e da Gronelândia e um dos únicos que nos faz recordar o passado glorioso da pesca do bacalhau. O Gil Eannes, atentendo à qualidade da sua construção e ao seu tipo de casco, deveria ser reconhecido como património classificado nacional a exemplo do que acontece noutros países europeus em navios com características semelhantes. É património afetivo e cultural de toda a comunidade vianense.” Realçou ainda o esforço da comunidade vianense para salvar o navio, “... Este movimento teve a expressão máxima na pessoa do Dr. Defensor Moura, presidente, então, da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que sabiamente, com firmeza, muita persistência e tenacidade, engenho e arte liderou o movimento. Nunca será, demais realçar que sem a sua força, visão estratégica e suprema capacidade de interpretação do sentimento comum de todos os vianeses não estaríamos aqui a festejar e celebrar. Para ele a nossa mais que justificada e oportuna homenagem.”
O Secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, elogiou o projeto museológico fomentado pela Fundação Gil Eannes, perpetuando a cultura e a literacia marítima. “... Quando temos 85.000 visitantes num ano, significa que isto é um símbolo da cultura marítima.”
Concluiu a sua intervenção com uma nota pessoal dirigida ao Presidente José Maria Costa “... Permitam-me que sublinhe esta preocupação que o Sr. Presidente tem que é a de valorizar um projeto singular com sensibilização às questões do mar, com uma componente pedagógica e audiovisual e todo um percurso ligado ao passado.”
A sessão de honra terminou com a apresentação do livro “Os navios da pesca à linha” escrito pelo canadiano Jean Pierre Andrieux. Uma obra obrigatória na leitura de quem aprecia a temática marítima e a odisseia dos portugueses, pelos mares gelados, com cerca de 80% de fotos inéditas da “Faina Maior” levada a cabo pela frota branca portuguesa. Esta produção foi apresentada, pelo capitão João David Marques, que enalteceu a dimensão humana do autor e a importância que este livro pode ter para a construção da uma identidade imagética da cultura marítima e dos pescadores da pesca do bacalhau. Por seu lado, Jean Pierre Andrieux, salientou a amizade que sempre uniu os portugueses e os canadianos e recordou a importância que os navios da frota portuguesa tinham para toda a economia de St. John’s bem como os laços de amizade que ainda hoje perduram. Terminou a sua intervenção, com a oferta de peças originais do Gil Eannes, que recuperou por terras canadianas, e que foram recebidas emotivamente pelo Presidente da Fundação, José Maria Costa. Entre outras, uma bóia salva vidas, uma lanterna, louça...
Ato contínuo foi a inauguração das exposições:
- “ St. John’s – Regaço de Navios e Pescadores”;
- “Navios construídos em Viana do Castelo para a Pesca do Bacalhau”. Exibição constituída pelos vinte cinco grandes navios que foram construídos em Viana do Castelo especificamente para a pesca do bacalhau;
- “Uma Viagem no Tempo – Navios, Equipamentos, Instrumentos e Palamenta”. Uma mostra inovadora com peças originais e únicas, do colecionador Manuel Mário Bola e da Fundação Gil Eannes. Lançamento do catálogo da exposição, com a descrição pormenorizada de cada peça exposta, da autoria do capitão João David Marques;
- Abertura de novos espaços museológicos - Enfermaria com Altar; Gabinete do Enfermeiro de Vela e três camarotes dos enfermeiros.
A Fundação Gil Eannes congratula-se com os resultados extremamente positivos, que este projeto icónico granjeou, agradecendo a todos quantos contribuem, ou contribuíram, para que assim fosse.
A Fundação Gil Eannes
6 de fevereiro de 2018